Estudo visa proporcionar melhor desfecho ao paciente com autismo e seus familiares
Com objetivo de analisar como a percepção do cuidador pode ajudar no diagnóstico e tratamento precoce do TEA (Transtorno do Espectro Autista), a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) desenvolveu pesquisa de IC (Iniciação Científica) a fim de proporcionar melhor desfecho para o paciente com autismo e seus familiares.
Elaborada pelas alunas Paula Guirão Giron, Michelle Kaori Menezes Fukuda e Mariana Figueira, do curso de medicina da universidade, sob orientação da professora Dra. Susana Rosa Lopez Barrios, a pesquisa, divulgada à imprensa na última semana, recebeu o prêmio de melhor trabalho no Congresso Médico Universitário da USCS no ano passado.
O levantamento mostra que o TEA tem se tornado cada vez mais um problema de saúde pública, cujos impactos econômicos, sociais e principalmente familiares podem ser notados com facilidade, principalmente pelos pais das pessoas portadoras do transtorno.
“A partir do convívio, comparação da criança com outras, e um olhar cuidadoso capaz de detectar sinais como a dificuldade de interação social, maior interesse por objetos do que por pessoas e recusa de colo ou afagos, podemos considerar o cuidador como um ponto chave fundamental para o diagnóstico precoce de TEA. É sabido que os primeiros sintomas se iniciam entre os 6 e 24 meses, apesar de o diagnóstico ocorrer apenas após o quarto ano, na maioria dos casos”, explicam as alunas de IC da USCS.
Conforme o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), de 2023, o TEA é classificado como “transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado, basicamente, pelo déficit persistente na comunicação e interação social em múltiplos contextos; e por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades”. Está comumente associado a outras manifestações não específicas, como, por exemplo, fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade. O TEA é de três a quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres.
As pesquisadoras de IC explicam que é mais comum que as manifestações do TEA ocorram entre o primeiro e segundo ano de vida. Entretanto, o diagnóstico é realizado, mais frequentemente, entre os 4 e 6 anos de vida. Isso devido, principalmente, à sua etiologia, que pode ou não ter uma ou mais causas específicas e identificáveis. Neste caso, as causas podem incluir fatores genéticos e ambientais, os quais habitualmente interagem entre si.
“Em razão de tantas variáveis, pode haver atraso no início de intervenções, acarretando impactos negativos na evolução da comunicação e interação social dessas crianças, e consequentemente em seu prognóstico”, ressaltam as futuras médicas. Os pais demonstrarem que percebem atrasos no neurodesenvolvimento nos primeiros anos de vida pode contribuir para alertar os profissionais envolvidos e acelerar o diagnóstico.
Com aplicação de questionário com perguntas objetivas a pais e profissionais de saúde, a universidade informa que o estudo foi construído com base em crianças com o diagnóstico confirmado para TEA, na faixa etária de zero a 18 anos, em clínica do ABC que desenvolve avaliação neuropsicológica e terapias interdisciplinares para diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes com o transtorno.
Ainda conforme a instituição, entre os resultados apontados foi possível verificar que tanto a incerteza diagnóstica quanto a falta de preparo dos profissionais de saúde são empecilhos para o diagnóstico precoce do TEA. “Concluímos que os pais têm capacidade de perceber problemas no neurodesenvolvimento de seus filhos ainda entre o primeiro e segundo anos de vida. Mesmo sem conhecimento técnico, suspeitam da possibilidade de terem um filho autista”, avaliam Paula, Michelle e Mariana.
“Apesar da demanda aos serviços de saúde, o diagnóstico acontece tardiamente. Uma possibilidade para tal é a falta de conhecimento suficiente para reconhecer os sintomas de TEA ou se de fato tem-se avaliados os marcos do desenvolvimento neuropsicomotor nos atendimentos de puericultura, uma vez que o atraso já indica algum problema”, complementam.
De acordo com a orientadora da pesquisa, o estudo é relevante porque “evidencia dois pontos de suma importância para o diagnóstico, não só de TEA, como de qualquer outro transtorno do desenvolvimento neuropsicomotor”.
“O primeiro é que nós, profissionais da saúde, em especial os pediatras, temos que ter escuta qualificada às queixas da família, posto que eles observam seus filhos e se incomodam com a possibilidade de que algo não vai bem. Esse olhar dos pais é muito importante e pode nos dar alerta para investigar problemas”, ensina ela.
“Outro ponto que gostaria de destacar é a importância da puericultura ‘raiz’. Refiro-me ao olhar do pediatra não só ao crescimento em peso e altura, mas a avaliação do neurodesenvolvimento do bebê. Atrasos nos marcos do desenvolvimento, como sorrir, segurar objetos, olhar, sentar, esconder, alertam para muitos tipos diferentes e sérios de problemas”, continua.
A forma como a criança brinca é muito esclarecedora também. O estudo, complementa ela, foi oportuna para reforçar estas duas questões e alertar da importância da atenção e acolhimento. “Se juntarmos estes dois pontos, ouvir e avaliar, poderemos suspeitar e investigar. Logo, jamais devemos dizer às famílias preocupadas com atraso de linguagem, por exemplo, que devemos esperar crescer. Esperar pode significar perder a oportunidade de intervir precocemente e melhorar o prognóstico dessas crianças”, encerra ela.